Administração no cinema
O filme “Tropa de Elite 2” sob a óptica do
fayolismo
Claudemir Azevedo
Neste
trabalho tentarei fazer uma analogia do filme “Tropa de Elite 2” com o estudo de Henri Fayol
sobre a administração. Para tal, lançarei mão do próprio filme, do livro Teoria
Geral da Administração, de Fernando C.P. Motta e Isabella Gouveia e das aulas
de Introdução à Administração, ministradas pelo professor Mazzilli.
A Administração como
Ciência
Assim
como Taylor, Fayol também dedicou sua vida à introdução do método científico na
administração das empresas. Entretanto, enquanto Taylor realizou seus estudos
partindo das funções do operário chegando às atribuições da gerência, Fayol
realizou suas pesquisas no sentido inverso, seguindo uma hierarquia do topo
para a base da pirâmide, sendo essa premissa um ótimo argumento para
analisarmos o filme. Outra diferença entre os dois autores, diz respeito à
supervisão. Taylor defendia o controle de um operário por diversos
supervisores, cada um especializado em um aspecto da tarefa do operário. Já
Fayol defendia a conceito de unidade de comando, onde um operário deve ter
apenas um chefe.
O filme
Tropa
de Elite 2 traz o agora coronel Nascimento enfrentando um outro inimigo –
e que é motivo de muita indignação do brasileiro: a política. Depois de
comandar uma operação mal sucedida em Bangu I que resulta em um massacre. Nascimento se
torna um problema para o governador do Rio de Janeiro: por um lado, é exonerado
para contentar a mídia; por outro, é promovido a subsecretário de segurança (“cair
pra cima” – na fala de Nascimento) para respeitar a vontade de uma elite
estúpida que, formadora de opinião e lixando-se para os direitos humanos
alheios, aplaude de pé (literalmente, como revela a cena no restaurante) as
atitudes do sujeito. Depois de aparelhar o BOPE e transformá-lo em uma
verdadeira máquina de guerra, o coronel interrompe o tráfico na cidade, mas,
sem saber, propicia a ascensão de uma milícia nascida dentro da PM que,
explorando o vácuo de poder, aterroriza as favelas para extorquir seus
habitantes, transformando-as também em autênticos currais eleitorais. Sem
perceber o que está acontecendo, (por estar enclausurado em um gabinete)
Nascimento se vê atormentado por problemas pessoais e pela pressão exercida por
um político de esquerda, o deputado Fraga, cuja visão idealista acerca dos
direitos humanos freqüentemente gera embaraços para a polícia.
Discussão
1.1
Divisão do trabalho:
Pode-se
ver, no filme, uma divisão bem clara das tarefas, na sociedade, no Bope, na
Polícia Militar do RJ e nas esferas do poder político.
Na
sociedade, se encontram as pessoas que exercem os mais variados serviços para o
andamento da sociedade; tem o responsável pelo “gato da net”, os motoristas das
“vans” que fazem o transporte público não-oficial nas favelas, entre outros,
necessários para a vivência. Afinal, como citado no filme, “nem só do tráfico
vive a favela” e, é desta situação que se aproveita a milícia para financiar as
outras esferas do poder.
No
Bope, também há a divisão do trabalho, contudo, para evitar repetição de
conteúdo, veremos esta divisão no item “Unidade de comando”.
A
Polícia Militar merece um capítulo a parte. Ao contrário do que deveria
acontecer, a divisão não é feita conforme as patentes dos personagens, mas sim,
conforme a influência de cada um no comando da milícia. Uma nítida inversão da
subordinação, pelo poder, entre Fábio e Rocha.
Entre
os políticos, a divisão é feita pela legislação, e na trama, não é muito
diferente da realidade.
1.2
Especialização
Neste
item, chega a ser contraditório a especialização informal dos agentes da trama.
Obviamente, o personagem que trabalha puxando os “gatos da net” é especialista
em sua atividade, usando de seus conhecimentos para a contravenção, que é
“pequena” em contraponto aos crimes apresentados no restante do filme.
Mesclando
os itens 1.1 e 1.2, a divisão das tarefas dos milicianos acaba transformando-os
em especialistas em seus afazeres: fazer a cobrança dos moradores da favela,
“proteger” a população, entre outros.
O
Bope faz um treinamento especializado (Tropa de Elite I) visando combater o
tráfico. É uma unidade militar e, por isso, tem especialistas no combate ao
crime.
1.3
Unidade de Comando
A
unidade de comando mais destacada, certamente é o coronel Nascimento. A tomada
de decisões fica centralizada na pessoa dele. A cena da entrada em Bangu I mostra como é ele
quem está no controle da situação, passando as ordens de como agir para a
tomada do presídio. O fato relevante é que qualquer contra-ordem ou
insubordinação pode trazer resultados catastróficos (Mathias invade por conta
própria).
Outro
comando destacado é o da milícia. Rocha toma para si a chefia. Partindo dele
toda a esquematização de como devem agir os milicianos. (Invasão do Bairro do
Tanque).
1.4
Amplitude de Controle
Mais
uma boa análise pode ser feita contrapondo Nascimento x Rocha. Enquanto esteve
nas ruas, Nascimento controlava, mesmo à distância, as unidades do Bope. Cabe
ressaltar, todavia, que Rocha tem o controle da situação. Ele expande a área das
milícias por toda a zona leste do Rio de Janeiro mas continua administrando
toda a área, mesmo à distância. A impressão que se tem é que são poucas
quadras, mas, na verdade, são favelas e bairros, milhares de pessoas que são
observadas. Seus homens passam as informações necessárias (cena em que falam
para Rocha que o material de campanha já está na casa da senhora) e ele faz a
tomada de decisão.
2.
Objetivo Principal da Organização: Tarefas
Governador:
se reeleger.
Assessores:
manter seus cargos.
Bope:
combater o tráfico de drogas.
Milícia:
fazer com que o Bope expulse os traficantes das favelas para extorquir os
moradores em troca de uma “proteção”, para financiar a campanha do governador e
manter os assessores, que são a linha-direta (milícia-governador) e manter seus
negócios.
3.
Organização Formal
Mesmo
no Bope, a organização formal fica um pouco sem sentido no filme. A hierarquia
é quebrada na cena da invasão de Bangu I.
Na
milícia, a organização (in)formal é muito clara. Tem um líder, têm assessores e
vários outros “trabalhadores” na organização.
4.
Maior eficiência
A
milícia é muito eficiente nas tomadas dos bairros. Pouco se vê em matéria de
violência. Vão se instalando sem chamar a atenção do grande público e, quando
se percebe, já tomaram o controle.
A
eficiência do Bope para invadir as favelas e caçar os traficantes é
questionável. Ao mesmo tempo em que conquistam seu objetivo, fazem um estrago
no entorno.
5.
Maiores Salários e Maior Lucro
A
ascensão na carreira militar resulta em maiores salários automaticamente por
existir um plano previsto. Contudo, os maiores lucros obtidos no filme são os
obtidos pela milícia e pelos políticos.
Princípios fayolistas:
a)
Hierarquia: fala de Nascimento para Mathias, “eu estava no comando da ação”.
b)
Organização – máximo de níveis hierárquicos: PM, Bope e cargos políticos.
c)
Dedicação do indivíduo à organização: Nascimento não consegue conciliar a vida
privada com a carreira. Mathias pede explicações à Rocha e Fábio quando não
encontram as armas no Bairro Tanque e matam o traficante (cena da morte de
Mathias).
d)
Galgar Níveis Superiores: do filme um para o dois, Nascimento é promovido de
capitão a coronel.
e)
Estabilidade: não entrando em conflito com os interesses dos superiores, o
serviço militar garante estabilidade por se tratar de cargo público.
f)
Trabalho Especializado: nas cenas aéreas observa-se a especialização de cada
tarefa realizada. O piloto do helicóptero estudou para tal, tem também o
pessoal terrestre e o do blindado (caveirão).
g)
Divisão do Trabalho: Soldados do Bope (invasão do Bairro Tanque) estão
disfarçados no posto avançado para conter o ponto de fuga dos traficantes,
outros combatem de frente acuando-os.
h)
Método e Ordem de Execução do Trabalho: é uma mescla dos itens “f” e “g”.
i)
Salário Justo: o filme não faz referências a salários pagos aos policiais.
j)
Coerção, Punição: Mathias é punido por ter dado a entrevista revelando
problemas internos da corporação.
Conclusão:
O
filme “Tropa de Elite 2”
nos traz variada gama de elementos administrativos para uma análise
considerável segundo Fayol, porque ele reproduz princípios administrativos da
Igreja e do Exército, sendo este último, a base para o estudo do filme.
Para
cada área da administração, podemos analisar a vida, não só dentro das
organizações, como também na relação familiar, societária e global e, ainda,
relacionar, item após item, suas relações.
A
própria relação de violência também tem uma explicação científica segundo o
estudioso, pois “os comportamentos percebidos como inadequados pelos gerentes
não eram vistos como sendo resultado de uma irracionalidade no comportamento
dos indivíduos no trabalho, mas sim como decorrentes de defeitos na estrutura
da organização ou de problemas na sua implementação” (FAYOL, 1949).
Para
concluir, tanto a Milícia quanto o Bope realizam seus objetivos, mas cada qual
com meios diferentes, porém com estruturas semelhantes.
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