O filme “Tropa de Elite 2” sob a óptica do fayolismo - Blog do Estudante de Atuariais

terça-feira, 19 de março de 2019

O filme “Tropa de Elite 2” sob a óptica do fayolismo

Administração no cinema

O filme “Tropa de Elite 2” sob a óptica do fayolismo

Claudemir Azevedo

Neste trabalho tentarei fazer uma analogia do filme “Tropa de Elite 2” com o estudo de Henri Fayol sobre a administração. Para tal, lançarei mão do próprio filme, do livro Teoria Geral da Administração, de Fernando C.P. Motta e Isabella Gouveia e das aulas de Introdução à Administração, ministradas pelo professor Mazzilli.

A Administração como Ciência

Assim como Taylor, Fayol também dedicou sua vida à introdução do método científico na administração das empresas. Entretanto, enquanto Taylor realizou seus estudos partindo das funções do operário chegando às atribuições da gerência, Fayol realizou suas pesquisas no sentido inverso, seguindo uma hierarquia do topo para a base da pirâmide, sendo essa premissa um ótimo argumento para analisarmos o filme. Outra diferença entre os dois autores, diz respeito à supervisão. Taylor defendia o controle de um operário por diversos supervisores, cada um especializado em um aspecto da tarefa do operário. Já Fayol defendia a conceito de unidade de comando, onde um operário deve ter apenas um chefe.

O filme

Tropa de Elite 2 traz o agora coronel Nascimento enfrentando um outro inimigo – e que é motivo de muita indignação do brasileiro: a política. Depois de comandar uma operação mal sucedida em Bangu I que resulta em um massacre. Nascimento se torna um problema para o governador do Rio de Janeiro: por um lado, é exonerado para contentar a mídia; por outro, é promovido a subsecretário de segurança (“cair pra cima” – na fala de Nascimento) para respeitar a vontade de uma elite estúpida que, formadora de opinião e lixando-se para os direitos humanos alheios, aplaude de pé (literalmente, como revela a cena no restaurante) as atitudes do sujeito. Depois de aparelhar o BOPE e transformá-lo em uma verdadeira máquina de guerra, o coronel interrompe o tráfico na cidade, mas, sem saber, propicia a ascensão de uma milícia nascida dentro da PM que, explorando o vácuo de poder, aterroriza as favelas para extorquir seus habitantes, transformando-as também em autênticos currais eleitorais. Sem perceber o que está acontecendo, (por estar enclausurado em um gabinete) Nascimento se vê atormentado por problemas pessoais e pela pressão exercida por um político de esquerda, o deputado Fraga, cuja visão idealista acerca dos direitos humanos freqüentemente gera embaraços para a polícia.

Discussão

1.1 Divisão do trabalho:
Pode-se ver, no filme, uma divisão bem clara das tarefas, na sociedade, no Bope, na Polícia Militar do RJ e nas esferas do poder político.
Na sociedade, se encontram as pessoas que exercem os mais variados serviços para o andamento da sociedade; tem o responsável pelo “gato da net”, os motoristas das “vans” que fazem o transporte público não-oficial nas favelas, entre outros, necessários para a vivência. Afinal, como citado no filme, “nem só do tráfico vive a favela” e, é desta situação que se aproveita a milícia para financiar as outras esferas do poder.
No Bope, também há a divisão do trabalho, contudo, para evitar repetição de conteúdo, veremos esta divisão no item “Unidade de comando”.
A Polícia Militar merece um capítulo a parte. Ao contrário do que deveria acontecer, a divisão não é feita conforme as patentes dos personagens, mas sim, conforme a influência de cada um no comando da milícia. Uma nítida inversão da subordinação, pelo poder, entre Fábio e Rocha.
Entre os políticos, a divisão é feita pela legislação, e na trama, não é muito diferente da realidade.

1.2 Especialização
Neste item, chega a ser contraditório a especialização informal dos agentes da trama. Obviamente, o personagem que trabalha puxando os “gatos da net” é especialista em sua atividade, usando de seus conhecimentos para a contravenção, que é “pequena” em contraponto aos crimes apresentados no restante do filme.
Mesclando os itens 1.1 e 1.2, a divisão das tarefas dos milicianos acaba transformando-os em especialistas em seus afazeres: fazer a cobrança dos moradores da favela, “proteger” a população, entre outros.
O Bope faz um treinamento especializado (Tropa de Elite I) visando combater o tráfico. É uma unidade militar e, por isso, tem especialistas no combate ao crime.

1.3 Unidade de Comando
A unidade de comando mais destacada, certamente é o coronel Nascimento. A tomada de decisões fica centralizada na pessoa dele. A cena da entrada em Bangu I mostra como é ele quem está no controle da situação, passando as ordens de como agir para a tomada do presídio. O fato relevante é que qualquer contra-ordem ou insubordinação pode trazer resultados catastróficos (Mathias invade por conta própria).
Outro comando destacado é o da milícia. Rocha toma para si a chefia. Partindo dele toda a esquematização de como devem agir os milicianos. (Invasão do Bairro do Tanque).

1.4 Amplitude de Controle
Mais uma boa análise pode ser feita contrapondo Nascimento x Rocha. Enquanto esteve nas ruas, Nascimento controlava, mesmo à distância, as unidades do Bope. Cabe ressaltar, todavia, que Rocha tem o controle da situação. Ele expande a área das milícias por toda a zona leste do Rio de Janeiro mas continua administrando toda a área, mesmo à distância. A impressão que se tem é que são poucas quadras, mas, na verdade, são favelas e bairros, milhares de pessoas que são observadas. Seus homens passam as informações necessárias (cena em que falam para Rocha que o material de campanha já está na casa da senhora) e ele faz a tomada de decisão.

2. Objetivo Principal da Organização: Tarefas
Governador: se reeleger.
Assessores: manter seus cargos.
Bope: combater o tráfico de drogas.
Milícia: fazer com que o Bope expulse os traficantes das favelas para extorquir os moradores em troca de uma “proteção”, para financiar a campanha do governador e manter os assessores, que são a linha-direta (milícia-governador) e manter seus negócios.

3. Organização Formal
Mesmo no Bope, a organização formal fica um pouco sem sentido no filme. A hierarquia é quebrada na cena da invasão de Bangu I.
Na milícia, a organização (in)formal é muito clara. Tem um líder, têm assessores e vários outros “trabalhadores” na organização.

4. Maior eficiência
A milícia é muito eficiente nas tomadas dos bairros. Pouco se vê em matéria de violência. Vão se instalando sem chamar a atenção do grande público e, quando se percebe, já tomaram o controle.
A eficiência do Bope para invadir as favelas e caçar os traficantes é questionável. Ao mesmo tempo em que conquistam seu objetivo, fazem um estrago no entorno.

5. Maiores Salários e Maior Lucro
A ascensão na carreira militar resulta em maiores salários automaticamente por existir um plano previsto. Contudo, os maiores lucros obtidos no filme são os obtidos pela milícia e pelos políticos.

Princípios fayolistas:

a) Hierarquia: fala de Nascimento para Mathias, “eu estava no comando da ação”.
b) Organização – máximo de níveis hierárquicos: PM, Bope e cargos políticos.
c) Dedicação do indivíduo à organização: Nascimento não consegue conciliar a vida privada com a carreira. Mathias pede explicações à Rocha e Fábio quando não encontram as armas no Bairro Tanque e matam o traficante (cena da morte de Mathias).
d) Galgar Níveis Superiores: do filme um para o dois, Nascimento é promovido de capitão a coronel.
e) Estabilidade: não entrando em conflito com os interesses dos superiores, o serviço militar garante estabilidade por se tratar de cargo público.
f) Trabalho Especializado: nas cenas aéreas observa-se a especialização de cada tarefa realizada. O piloto do helicóptero estudou para tal, tem também o pessoal terrestre e o do blindado (caveirão).
g) Divisão do Trabalho: Soldados do Bope (invasão do Bairro Tanque) estão disfarçados no posto avançado para conter o ponto de fuga dos traficantes, outros combatem de frente acuando-os.
h) Método e Ordem de Execução do Trabalho: é uma mescla dos itens “f” e “g”.
i) Salário Justo: o filme não faz referências a salários pagos aos policiais.
j) Coerção, Punição: Mathias é punido por ter dado a entrevista revelando problemas internos da corporação.

Conclusão:

O filme “Tropa de Elite 2” nos traz variada gama de elementos administrativos para uma análise considerável segundo Fayol, porque ele reproduz princípios administrativos da Igreja e do Exército, sendo este último, a base para o estudo do filme.
Para cada área da administração, podemos analisar a vida, não só dentro das organizações, como também na relação familiar, societária e global e, ainda, relacionar, item após item, suas relações.
A própria relação de violência também tem uma explicação científica segundo o estudioso, pois “os comportamentos percebidos como inadequados pelos gerentes não eram vistos como sendo resultado de uma irracionalidade no comportamento dos indivíduos no trabalho, mas sim como decorrentes de defeitos na estrutura da organização ou de problemas na sua implementação” (FAYOL, 1949).
Para concluir, tanto a Milícia quanto o Bope realizam seus objetivos, mas cada qual com meios diferentes, porém com estruturas semelhantes.






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